sábado, 1 de junho de 2013

Força Sinistra


Como Tirado de um Pesadelo


Quando eu era criança e ouvia casos ao pé do fogo, escutava histórias das noites do interior de Minas, região do Serro, Alvorada e Conceição do Mato Dentro, casos de lobisomem, o cão fantasma da encruzilhada, a cobra voadora e outras. Uma história sobre o cão fantasma (que mais tarde se assemelhou muito a história do cão das doze que li) me intrigou muito na época. Minha tia me contou que meu tio avô que faleceu há anos retornou bêbado da cidade para o campo quando encontrou um grande cachorro branco de olhos vermelhos uma porteira. 

O bicho uivava e babava de raiva e avançou em cima dele. Ele sacou o revolver e tentou descarregar a arma no bicho, mas a arma mascou. Ele pegou a faca e tentou furar o bicho, mas ele entrou dentro da terra e ficou latindo lá de dentro. Segundo a história ele riscou a terra para todo lado e nada de acertar o tal cachorro. De medo ele fugiu e se escondeu em casa chorando a noite inteira. No dia seguinte a arma miraculosamente funcionou perfeitamente. 

Hoje em dia é coisa de se dar risada, afinal, alguém bêbado tendo alucinações de madrugada e não conseguindo nem empunhar uma arma é bem comédia. Mas o interessante deste fato é que já escutei alguns casos de amigos no interior onde a aparição de fantasmas fez com que o carro de um sujeito parar funcionar do nada no meio do mato só voltando a funcionar quando o ser sobrenatural desapareceu, ou acontecesse um blecaute da casa ou na fazenda.

Cheguei então a conclusão que os monstros de nossa mitologia são muito mais assombrosos que os de Hollywood. Imagine você sendo o Batman ou o Homem de Ferro e seus equipamentos eletrônicos e armas simplesmente não funcionarem na presença de uma criatura assim? Seria um pesadelo. É como se os monstros de nosso folclore estivessem envoltos em uma força sinistra que ignora o efeito das criações do ser humano.

"Passa no fogo e não queima
Passa na água e não molha
Tiro de arma não zoa
Faca amolada não corta"

Achei a concepção interessante já que encaixa bem com o xamanismo mágico dos índios e até um pouco com a ideia do "Corpo Fechado" da mitologia afro-brasileira. Há várias histórias de heróis indígenas que tinha "olhos nas costas" para poder ver os inimigos, como na história do velho Juruna Sinaá do livro "Xingu - Os Índios e Seus Mitos" de Orlando e Cláudio Villas Boas. No livro é comum ver transformações em animais, aves e peixes.

Baseado nesta concepção eu tirei a ideia da "Força Sinistra" que faz parte do Universo de Tupanaoca e em sua forma lapidada que seria o conhecimento do "Ayvu Rapyta", a sabedoria dos ciclos dos céus tirado do livro do índio Kaká Werá Jakupé com o título de "A Terra Dos Mil Povos".

Para ver como isso foi usado nas histórias, é só acompanhar os quadrinhos de Tupanaoca que serão publicados neste blog. Espero que seja do agrado de todos.


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