A Lenda do Carnaval que fez o Governo usar o Capítulo VI da
Constituição
E lá vamos nós com mais um artigo e desta vez um pouco
diferente. Creio que seja oportuno falar um pouco sobre o Carnaval. Mas por que
carnaval em um Blog que tem o objetivo de contar histórias com ligação com o
folclore?
Vamos começar com o básico: o que é folclore? Folclore é o
conjunto de tradições e manifestações populares constituído por lendas, mitos,
provérbios, danças e costumes que são passados de geração em geração. Podemos
citar como manifestações folclóricas as Festas Juninas, as Marujadas e o
Carnaval.
Um Pouco sobre a
História do Carnaval
O Carnaval no Brasil começou sua história no Período
Colonial. Uma das primeiras manifestações carnavalescas foi o entrudo, uma
festa de origem portuguesa que, na colônia, era praticada pelos escravos. Estes
saíam pelas ruas com seus rostos pintados, jogando farinha e bolinhas de água
de cheiro nas pessoas. Tais bolinhas nem sempre eram cheirosas. O entrudo era
considerado ainda uma prática violenta e ofensiva, em razão dos ataques às
pessoas, mas era bastante popular.
Por volta de meados do século XIX, no Rio de Janeiro, a
prática do entrudo passou a ser criminalizado. Todavia, as camadas populares
não desistiram de suas práticas carnavalescas surgindo os chamados cordões e ranchos, ambos ligados à população
rural e a práticas religiosas usando de procissões, capoeira e tocadores de
bumbos. A elite do Império começou a organizar os Bailes de Carnaval nos
teatros e clubes cariocas. As marchinhas
de carnaval surgiram também no século XIX, e o nome originário mais conhecido é
o de Chiquinha Gonzaga, bem como sua música O Abre-alas.
O samba somente
surgiria por volta da década de 1910, com a música Pelo Telefone, de Donga e
Mauro de Almeida, tornando-se ao longo do tempo o legítimo representante
musical do carnaval.
Hoje, no século XXI, milhões de pessoas vão às ruas em
dezenas de cidades brasileiras fazendo do carnaval o maior espetáculo popular
do mundo.
Não Subestimem as
Manifestações populares
Enquanto alguns pulam e se divertem (nas ruas ou não),
outros abrem sua metralhadora de protestos contra o carnaval acusando a felicidade
alheia de ser a causa dos problemas sociais do país usando de frases na
internet tipo: “Se as pessoas fossem para as ruas protestar contra a situação
do país em lugar de se divertir, nosso Brasil seria outro!” Mas será isso
verdade? Não tenho pretensão de fazer qualquer tipo de juízo político (até
porque, se tem uma coisa que história nos ensina é de não ter políticos de
estimação porque eles vão te morder) o que quero e acho relevante, como
escritor e como artista, é de como a cultura popular não pode ser subestimada e
o fato dela ter, sim, poder para mudar o rumo das coisas de uma maneira tão
surpreendente quanto o roteiro de um longa-metragem.
Ato I – Entendendo a Causa (Ou boa parte dela).
Em um momento de vacas gordas, o então presidente da
República Luís Inácio, o Lula, orgulhosamente trouxe para o Brasil a Copa do
Mundo e as Olimpíadas do Rio de Janeiro. Países mais estruturados que o Brasil
acharam a ideia uma loucura, Barcelona, Londres e Grécia gastaram milhões de
dólares em estrutura para cumprir um caderno insano de encargos para receber o
evento das Olimpíadas e mesmo eles afundaram em dívidas e praticamente faliram.
O Brasil tinha que cumprir dois cadernos, o da Copa e o Olímpico. Resumindo: ou
na época o Brasil engrenava e virava uma Superpotência ou ia dar zica, o país
ia se endividar, a corrupção ia escancarar e o povo é que ia pagar... Claro,
dado a nossa “competência política histórico-administrativa” ficamos com a
segunda opção.
Antes mesmo da Copa, antes da então Presidente Dilma terminar
seu primeiro mandato, já haviam protestos nas ruas devido aos atrasos e os
gastos com o primeiro evento, estádios prontos foram reformados com gastos milionários
e elefantes brancos em estados sem tradição no futebol foram erguidos para a
alegria dos empreiteiros de obras superfaturadas. Obras de estrutura viária
duvidosas (como o viaduto da Copa que caiu em BH, ou o VLT de Cuiabá que não
foi entregue, mas foi gasto). Dilma já chegou ao final do Primeiro Mandato com
as finanças desorganizadas precisando de “pedaladas fiscais” para fechar as
contas.
Veio então as Olimpíadas do Rio, com problemas entre a União,
o Estado do Rio e a Prefeitura do Rio no cumprimento do caderno de encargos do
Comitê Olímpico Internacional. Mais obras superfaturadas aconteceram, obras com
engenharia duvidosa (como a ciclovia lagoa-barra), obras históricas que jamais
terminaram (como a despoluição da Bahia da Guanabara). O resultado, como os
países organizados previram, foi a implosão do Brasil. O Estado do Rio de
Janeiro praticamente faliu, o corredor de corrupção ficou escancarado resultando
do Impeachment da presidente Dilma e na posse do até então “vice decorativo”
Michel Temer.
Temer chegou com a promessa de reativar a economia
brasileira, com queda brusca na arrecadação de impostos devido a grande
quantidade de empresas que fecharam e a alta taxa de desemprego e inflação
alta. O legado que ele queria deixar no seu último ano de governo era do homem
que encarou o problema da previdência social do país. Só que, com um plano ruim
de correção da previdência e apoiado pelo congresso nacional mais pilantra da
nossa história o que se viu foi uma série de favores financeiros sem nenhum
resultado prático a não ser tornar o nosso querido “mordomo do Drácula” na figura
menos confiável de todos os últimos presidentes que passaram.
Ato II – A Vingança
do Carnaval
Temer, aliás, é a grande figura do momento histórico que entramos
a partir do dia 16/02/2018. Ele é um cara que diz que não se importa com
pesquisas do Datafolha e Ibope de popularidade, mas foi o autor da carta que demonstrou
o quanto ele é orgulhoso quando era vice de Dilma Rousseff com a famosa lamentação
de ser um “Vice Decorativo”. Ao seu lado está o então governador do Rio de
Janeiro Pezão, que achou que conseguiria marcar no peito e sair jogando a
estratégia do Cabral quando, em Abril do ano das eleições, deixou o comando do Estado
com ele e se mandou literalmente depois de furtar o Estado de tal forma que
hoje é um feliz morador do Complexo Penitenciário na Região Metropolitana de
Curitiba. E, finalizando o trio, o prefeito que “não gosta de samba, bom
sujeito não é!” Marcelo Crivela, que entre ser Prefeito do Rio de Janeiro e Bispo
Evangélico, ele demonstrou que vai preferir a segunda opção.
Tudo começou em 2017, o Estado do Rio, com salários
atrasados e fornecedores sem receber precisou cortar despesas e, desta forma, o
Carnaval sofreu seu primeiro baque. Para o carnaval de 2018 a situação não
melhoraria e ainda teve o agravante do Município, através de seu representante máximo,
demonstrar reiteradas vezes o preconceito contra qualquer coisa ligada a “cultura
africana satânica do carnaval”. Não adianta a boca apontar para a esquerda se
suas ações são para a direita, o povo, o carnavalesco, entendeu bem o recado.
Resultado: Ratos e Vampiros dançaram em um desfile claramente
de protesto na Sapucaí, Paraíso do Tuiutí e Beija-Flor de Nilópolis chegaram a
constranger a Rede Globo que, por contrato, transmitiu o desfile para todo o Brasil
e grande parte do mundo. A imagem do povo seguindo com a Beija-Flor no final do
desfile, numa clara mensagem: “Este carnaval me representa” foi assombroso, especialmente
para a classe política brasileira.
Coincidência? Eu acho
que não.
Terça-feira, após os desfiles, Temer se reuniu com o governador
Pezão e o Presidente da Câmara para dar partida a uma Intervenção Federal que
foi autorizada na sexta, dia 16/02/2018 para o Estado do Rio de Janeiro. Um
alívio para quem já se cansou da rotina de arrastões, furtos de celulares e
carteiras, bandidos em carros e motos de fuzis, explosão de granadas, tiroteios
e morte. Não que vá resolver o problema, mas, ao menos é uma aspirina na eterna
dor de cabeça que é a segurança do Estado.
O impacto da medida extrapola o Rio de Janeiro, uma vez que
a Constituição prevê que, durante uma intervenção federal, não pode haver
qualquer alteração constitucional no país. Isso inviabilizaria, por exemplo, a
Reforma da Previdência.
Sou de opinião que o Temer já viu que a Reforma da
Previdência foi para o ralo. Que ao ver o Vampiro na passarela ele ficou bolado
com o tanto de dinheiro que tem dado aos Deputados e as reformas que ele queria
como legado não estão indo para frente. Ele é orgulhoso, entrou como presidente
pela porta dos fundos e se não fizer nada, não deixar nenhum legado, sairá pela
mesma porta que entrou.
Apenas uma coisa é certa: entre a briga de coxinhas
e mortadelas, quem fez história foi o Samba. O governo teve que se mexer,
porque o Samba é lendário. Fica a lição: não se deve subestimar a cultura
brasileira.