Olá.
O século passado foi logo ali. Acreditem, na década de
sessenta e setenta a metade dos municípios do Brasil não tinham ainda luz
elétrica e eram iluminados por geradores ou por lampiões e lamparinas de
querosene. Quem nasceu nos anos setenta, ou antes, tem muito que contar de como
o mundo era visto naquela época. O rádio era o melhor meio de comunicação com o
mundo e os casos ao pé do fogo, nas noites frias, eram as novelas e séries da
época.
Eu nasci em uma cidade bem estruturada, mas tive em minha
infância a oportunidade de ouvir muitas histórias no interior de Minas, terra da
minha mãe, e talvez seja por isso que eu gosto tanto do folclore e seus
mistérios. De certa forma eu vivi isso quando jovem. Como escoteiro ou com meus
primos e amigos do interior, incontáveis noites já caminhei sem qualquer tipo
de luz por trilhas e estradas de terra. Acampei muitas vezes. Dormi muitas
vezes em fazendas. Já joguei futebol na chuva, ou sob a luz da lua cheia. Já
pesquei à noite com o rio cheio. Por isso digo que quem já caminhou em uma
noite de verdade sabe que é algo diferente. Todos os seus sentidos precisam se
ampliar para você não ser surpreendido por um buraco ou algum obstáculo
natural. Seu coração bate diferente. Seus ouvidos também precisam ouvir o que
está em volta. Você precisa ficar menos distraído e desligar os inúmeros
pensamentos de sua mente que são inúteis diante da escuridão.
Escutar o som da noite, sentir o cheiro do capim, ver o céu
limpo... São sensações maravilhosas que, não importa o quanto o tempo passe
vivendo em cidade, você jamais esquece. Você também não se esquece dos seus
medos de quando você é criança. O som de um inseto em uma noite realmente
escura é ameaçador, afinal, você não sabe que bicho que é. Seria ele grande,
pequeno, venenoso? São estas sensações que, acredito eu, seja a matriz para a
criação das lendas em uma época em que não havia tantas estradas, tanta
tecnologia e tanta comodidade. Diz uma das lendas sobre os Sacis que eles
nascem em bambuzais. Eu já tive a oportunidade de entrar em um bambuzal muito
grande à noite e posso dizer que é assustador! Não passa um raio de luar por
entre as folhas. É realmente um lugar ideal para a morada de um saci.
Na cidade grande, não temos medo de sacis. Temos medo é de
trapaceiros, malucos sob o efeito de drogas e assaltantes com armas de
fogo. Uma realidade muito chata na minha
opinião. Com sacis, tínhamos a sensação gostosa do imponderável e do mistério.
Com ladrões, não há mistério algum, apenas a sensação de ódio e revolta de você
não poder fazer nada com eles do que eles fazem com a gente. Vivemos sob a
regra de ser assaltados, chamar a polícia, fazer um Boletim de Ocorrência e
virar mais um número na estatística da violência urbana. Vida muito chata.
É por isso que estou inaugurando este espaço. Para falar um
pouco sobre lendas, folclore, quadrinhos, etc. Dois amigos meus me marcaram com
o mesmo discurso: O Eustáquio, da faculdade e o Henrique, do blog cultura pop.
Da maneira deles eles me disseram que quando eu fosse ler ou assistir um filme
ou algo assim deveria fugir do pensamento comum de que tudo tem que ser “o mais real possível”. A realidade já está a
nossa volta, basta ler um jornal ou dar uma volta na rua. Concordo com eles.
Quem quiser realidade visite o G1, o R7, ou o site da Veja. Quem quer se
divertir, conhecer um pouco dos “causos” do interior, do folclore e ainda falar
de cultura pop, quadrinhos e afins, TUPANAOCA é o seu lugar.
Desejo que aqui seja o espaço certo para conversar com
outros blogueiros, mostrar o projeto Tupanaoca de quadrinhos, e falar sobre
folclore, lendas urbanas e criar ideias para novas histórias.
Seja bem vindo. Espero que se divirta.
Frederic Assis Spekman – Maio/2013