quinta-feira, 30 de maio de 2013

Primeira Postagem


Olá.

O século passado foi logo ali. Acreditem, na década de sessenta e setenta a metade dos municípios do Brasil não tinham ainda luz elétrica e eram iluminados por geradores ou por lampiões e lamparinas de querosene. Quem nasceu nos anos setenta, ou antes, tem muito que contar de como o mundo era visto naquela época. O rádio era o melhor meio de comunicação com o mundo e os casos ao pé do fogo, nas noites frias, eram as novelas e séries da época.

Eu nasci em uma cidade bem estruturada, mas tive em minha infância a oportunidade de ouvir muitas histórias no interior de Minas, terra da minha mãe, e talvez seja por isso que eu gosto tanto do folclore e seus mistérios. De certa forma eu vivi isso quando jovem. Como escoteiro ou com meus primos e amigos do interior, incontáveis noites já caminhei sem qualquer tipo de luz por trilhas e estradas de terra. Acampei muitas vezes. Dormi muitas vezes em fazendas. Já joguei futebol na chuva, ou sob a luz da lua cheia. Já pesquei à noite com o rio cheio. Por isso digo que quem já caminhou em uma noite de verdade sabe que é algo diferente. Todos os seus sentidos precisam se ampliar para você não ser surpreendido por um buraco ou algum obstáculo natural. Seu coração bate diferente. Seus ouvidos também precisam ouvir o que está em volta. Você precisa ficar menos distraído e desligar os inúmeros pensamentos de sua mente que são inúteis diante da escuridão.

Escutar o som da noite, sentir o cheiro do capim, ver o céu limpo... São sensações maravilhosas que, não importa o quanto o tempo passe vivendo em cidade, você jamais esquece. Você também não se esquece dos seus medos de quando você é criança. O som de um inseto em uma noite realmente escura é ameaçador, afinal, você não sabe que bicho que é. Seria ele grande, pequeno, venenoso? São estas sensações que, acredito eu, seja a matriz para a criação das lendas em uma época em que não havia tantas estradas, tanta tecnologia e tanta comodidade. Diz uma das lendas sobre os Sacis que eles nascem em bambuzais. Eu já tive a oportunidade de entrar em um bambuzal muito grande à noite e posso dizer que é assustador! Não passa um raio de luar por entre as folhas. É realmente um lugar ideal para a morada de um saci.

Na cidade grande, não temos medo de sacis. Temos medo é de trapaceiros, malucos sob o efeito de drogas e assaltantes com armas de fogo.  Uma realidade muito chata na minha opinião. Com sacis, tínhamos a sensação gostosa do imponderável e do mistério. Com ladrões, não há mistério algum, apenas a sensação de ódio e revolta de você não poder fazer nada com eles do que eles fazem com a gente. Vivemos sob a regra de ser assaltados, chamar a polícia, fazer um Boletim de Ocorrência e virar mais um número na estatística da violência urbana. Vida muito chata.

É por isso que estou inaugurando este espaço. Para falar um pouco sobre lendas, folclore, quadrinhos, etc. Dois amigos meus me marcaram com o mesmo discurso: O Eustáquio, da faculdade e o Henrique, do blog cultura pop. Da maneira deles eles me disseram que quando eu fosse ler ou assistir um filme ou algo assim deveria fugir do pensamento comum de que tudo tem que ser  “o mais real possível”. A realidade já está a nossa volta, basta ler um jornal ou dar uma volta na rua. Concordo com eles. Quem quiser realidade visite o G1, o R7, ou o site da Veja. Quem quer se divertir, conhecer um pouco dos “causos” do interior, do folclore e ainda falar de cultura pop, quadrinhos e afins, TUPANAOCA é o seu lugar.

Desejo que aqui seja o espaço certo para conversar com outros blogueiros, mostrar o projeto Tupanaoca de quadrinhos, e falar sobre folclore, lendas urbanas e criar ideias para novas histórias.
Seja bem vindo. Espero que se divirta.


Frederic Assis Spekman – Maio/2013